Tecnologia desenvolvida pela PUCPR em parceria com a Santa Casa de Curitiba foi comprada pela inglesa Tissue Regenix
A tecnologia de descelularização de válvulas cardíacas humanas para substituição de válvulas do coração, desenvolvida e em fase final de patente pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), começará a ser comercializada em todo o mundo, com o acordo firmado entre a Universidade e a inglesa Tissue Regenix, no ano passado.
O acordo de comercialização e propriedade industrial garante à empresa de dispositivos médicos regenerativos os direitos exclusivos de comercialização da tecnologia em todos os países do mundo, exceto no Brasil, onde as válvulas cardíacas
humanas descelularizadas já são comercializadas pelo Banco de Valvas Cardíacas da PUCPR, o único banco de válvulas do país.
A tecnologia brasileira consiste na retirada de todas as células da válvula do doador cadáver, por meio de um tratamento enzimático e químico, o que aumenta a durabilidade do enxerto, beneficiando principalmente pacientes infantis e jovens. Segundo o cirurgião cardíaco da Santa Casa de Curitiba e coordenador do Núcleo de Enxertos Cardiovasculares do Laboratório de Engenharia de Tecidos e Cultivo Celular da PUCPR, Francisco Diniz Affonso da Costa, mais de 300 pacientes receberam a válvula no Brasil, sendo 140 deles na Santa Casa de Curitiba, hospital referência em cirurgia de substituição de válvula cardíaca.
Entre os pacientes operados na Santa Casa de Curitiba, constatou-se que as válvulas descelularizadas não apresentam calcificação no período de cinco anos, em comparação com pacientes que receberam a válvula criopreservada, que contém as células do doador cadáver. Este estudo foi publicado em dezembro de 2010 no The Annals of Thoracic Surgery.
Segundo Costa, a eficiência da tecnologia de descelularização motiva a equipe a testá-la em outros tipos de tecido como, por exemplo, o pericárdio, que pode ser aplicado em cirurgias de nariz, ouvido, hérnias e enxertos vasculares. O acordo firmado com a Tissue Regenix será importante neste processo. “Com a comercialização da tecnologia na Europa e no mundo, outros grupos de pesquisa também podem começar a testar a tecnologia em diferentes tipos de tecidos e até mesmo em próteses de tecido animal”, explica.
Benefícios – No mundo, o mercado de válvulas cardíacas movimenta mais de US$ 1 bilhão. As válvulas cardíacas humanas ou homoenxertos são utilizados como substitutos valvares desde 1962 e são considerados superiores a qualquer outro tipo de substituto. Por ano, 20 mil brasileiros submetem-se à cirurgia de substituição das válvulas aórtica e/ou pulmonar. Dos transplantes realizados no mundo, apenas cerca de 3% utilizam o homoenxerto, em função da maior dificuldade técnica da cirurgia e da disponibilidade do homoenxerto, que depende do volume de doações. O restante utiliza próteses mecânicas e biológicas, feitas a partir de tecidos de animais, que têm menor durabilidade e exigem o uso de anticoagulantes por toda a vida.
As experiências brasileiras com homoenxertos iniciaram em 1995. O grupo da PUCPR e Santa Casa de Curitiba foi responsável pela realização, em 2005, da primeira cirurgia no continente americano utilizando uma válvula descelularizada e repovoada com células endoteliais do próprio paciente. A técnica de repovoamento “in vitro” pela Engenharia de Tecidos é considerada o maior avanço mundial na área de homoenxertos. A Santa Casa de Curitiba também é referência em Cirurgia de Ross, que consiste na substituição da válvula aórtica degenerada pela válvula pulmonar sadia do próprio paciente, que por sua vez é substituída por um homoenxerto. A válvula pulmonar sofre pressão de três a quatro vezes menor do que a aórtica, possibilitando maior durabilidade do homoenxerto. A sobrevida dos pacientes submetidos à Cirurgia de Ross, em dez anos, é de 98%.