“Bora doar?”: paciente Transplantado da Santa Casa cria blog para conscientizar sobre doação de órgãos

Elson criou o blog enquanto esperava um transplante cardíaco. Ele encontrou na escrita uma forma de aprender mais sobre a doação de órgãos e deseja que sua história sirva de inspiração a quem se encontra na espera do transplante

Apesar de tímido, Elson Kunze sempre teve um espírito aventureiro. Aos 18 anos saiu do interior do Paraná com uma mala na mão e um sonho na cabeça. Neste dia, embarcou para Florianópolis e prometeu nunca mais voltar ao interior. Mal sabia Elson que a vida não é feita de certezas. “Atualmente, dizer coisas como ‘nunca mais’ está fora do meu dicionário”, conta o paciente. 

Hoje ele vive baseado no presente, como se não houvesse amanhã. Elson realizou um transplante cardíaco no Hospital Santa Casa de Curitiba. Durante sua permanência na espera pelo novo órgão, muitas dúvidas surgiram em sua cabeça. “Foi um baque após receber a notícia do transplante, em um primeiro momento eu não conseguia aceitar”, desabafa. 

Ele foi diagnosticado com miocardiopatia. Inicialmente, o tratamento medicamentoso contribuía para manter o coração ativo. Mas, com o tempo, quando os remédios não surtiram o mesmo efeito, foi hora de considerar o transplante. Graças ao apoio de familiares e amigos, ele conseguiu aceitar melhor a situação e viver com resiliência esse capítulo da sua vida. É aqui que entra a escrita.

Buscando um apoio maior, assim como autoconhecimento sobre a situação, encontrou um alento na literatura e na produção de conteúdo. Ele criou um blog onde compartilha mais informações sobre a doença e também conscientiza as pessoas para encorajar a doação de órgãos. O projeto se expandiu. As diversas curtidas e compartilhamentos nas redes sociais serviram de combustível para Elson perceber estar no caminho certo. Atualmente também criou coragem para fazer um canal no Youtube chamado “Bora doar?”

“Este projeto não serve só para mim, mas para mostrar a todos que estão na expectativa do transplante ser possível ter uma vida plena após a cirurgia. Quero ser um incentivo para salvar mais vidas”, explica.

Como tudo começou

Em 1999, quando tinha 26 anos, Elson foi diagnosticado com miocardiopatia grave após passar por uma consulta em Toledo, interior do Paraná, onde morava. “No primeiro momento, o médico disse que iria tomar uns remédios e ficaria bem”, relata Elson. Após alguns exames, o mesmo médico lhe informou que o caso não havia melhorado com os medicamentos disponíveis na época. Ele entrou pela primeira vez na fila do transplante.

Com o passar dos anos, as medicações foram ficando cada vez mais assertivas e Elson teve a oportunidade de sair da fila. Com o diagnóstico evidenciando que sua saúde estava bem, o médico na ocasião lhe deu apenas uma pequena puxada de orelha: “Você precisa parar de fumar”

Nesta época, Elson já estava seguindo a sua vida nos conformes. Depois do baque do diagnóstico da doença, até havia voltado para o mesmo interior que citamos acima no texto. Lá construiu uma carreira na área de logística e se tornou professor. “Até que em julho de 2013, eu infartei”, conta. 

O infarto foi um marco histórico em sua saúde. Ele se recuperou rapidamente após uma angioplastia, mas o infarto acometeu a estrutura muscular do coração dele, que evoluiu para a insuficiência cardíaca.

Após esse episódio, ele e sua esposa, que esteve sempre ao seu lado, viajaram mais de 600 km até a capital paranaense onde fizeram a consulta na Santa Casa de Curitiba. Nessa época, o coração já estava com 11% da capacidade cardíaca. A consulta foi feita com a Dra. Marcely Gimenes Bonatto, coordenadora do Serviço de Insuficiência Cardíaca e Transplante de Coração, aqui na Santa Casa. 

O tratamento começou com um medicamento recém-lançado no mercado. Graças a medicação, sua condição cardíaca evolui para 28%. “Mas sempre soube que o transplante era uma possibilidade, que o remédio não faria efeito para sempre”, explica Elson. E realmente, essa hora chegou. No final de 2021, após uma piora na frequência cardíaca e uma morte súbita abortada, ele foi internado novamente. A resposta era somente uma possível. Elson Kunze entrou pela segunda vez na fila do transplante.

Durante seu tempo no internamento, a equipe da Santa Casa de Curitiba preparou a visita do seu cachorro, Thor. Nesta foto, Elson ainda não havia recebido o coração novo.

A doença 

A miocardiopatia é uma das principais doenças cardiovasculares e uma das principais causas de internamento cardiológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Dra. Marcely, que atendeu o nosso paciente, explica que ela se caracteriza pela limitação que um coração não funcionante impõe no cotidiano. “Os pacientes apresentam muita dificuldade em esforço físico, falta de ar, edema e podem evoluir a inchaços no coração em consequência da dilatação e perda de função do coração”, explica. “Tanto cigarro quanto álcool e outras substâncias ilícitas causam insuficiência e arritmias, bem como doenças coronarianas, infarto e se isso evolui para quadros mais avançados de insuficiência então é necessário o transplante”, diz. Para fazer transplante, usuários de álcool, substâncias ilícitas e tabagistas são necessários 6 meses de abstinência.

Elson sempre relembra até hoje como foi o seu primeiro contato com o cigarro. “Foi na época em que eu já morava em Florianópolis”, começa. “Eu e um amigo quando éramos adolescentes saímos com cinco reais no bolso. Estávamos na Lagoa da Conceição, nos divertindo, onde com aquele mesmo dinheiro comprei uma cerveja e um maço”, finaliza.

Mas ele não olha para trás pensando em culpados ou mesmo em momentos que ele poderia ter evitado chegar onde está. Elson hoje entende que ninguém fica doente por escolha, mas que essa é a sua situação atual, então, ele irá lutar para conseguir vencê-la. “Hoje percebo toda a minha história com outros olhos. Foi um processo, mas na luta do transplante o primeiro passo é aceitar a doença, procurar ajuda, tanto física como mental, por isso que vejo minha história como inspiração”, comenta.

O pós-transplante

Em 11 de abril, Elson realizou o transplante do novo coração. Após alguns dias na UTI, ele foi liberado ao quarto e já encaminha para a alta. Ele já prepara planos. “Após o transplante quero viajar e uma meta que tenho comigo, é de fazer o Caminho do Itupava”, diz. Essa é uma trilha histórica que liga Curitiba a Morretes com cerca de 25 km de extensão. Outro desejo é continuar produzindo conteúdos sobre a sua condição física e a sua saúde. 

A Dra. Marcely explica que após o transplante o primeiro passo é evitar a rejeição do novo coração. “Para isso, ele precisa tomar imunossupressores além de outros remédios que contribuam para ele seguir vivo”, diz a especialista. “Com a imunidade mais baixa pós-cirurgia, ele deve se cuidar para garantir que ele não pegue uma infecção e não tenha rejeição do coração novo”, finaliza. 

A importância da doação

Essa história toda gira em torno da disposição de Elson em divulgar o processo de doação de órgãos. “Essa é minha segunda vez na fila”, comenta. “Lá em 1999 já não tinha muita gente, agora melhorou, mas precisamos de muito mais”. Ele conta que o transplante lhe abriu portas. Fez amizades e resolveu focar com sua produção de conteúdo para conscientizar as pessoas de que a doação salva vidas. “Comecei com o que tenho na mão, um notebook e a vontade, mas além de aprender sobre a doação achei na escrita uma forma de me manter vivo durante todo esse processo”, conta.

A Dra. Marcely contribui com a discussão e acha extremamente importante que atitudes como essa continuem sendo divulgadas. “Penso que quando um paciente na fila conta sua história, tem uma repercussão maior. O paciente faz esse apelo porque sabe que aquele órgão mudará a sua vida e isso tem uma questão social muito significativa”, defende.

Por fim, Elson conclui com o seguinte convite a todos nós: Bora doar?!

A Santa Casa de Curitiba acompanhará a evolução e recuperação de Elson e voltaremos a contar essa história em breve.

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Sobre o autor

Comunicação Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba

O setor de Comunicação e Marketing da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba é responsável pela gestão dos canais oficiais das unidades administradas.

Com uma equipe multidisciplinar e especializada, periodicamente publicamos conteúdos de saúde e bem-estar para a população.

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