Varíola dos Macacos: o que é e como se proteger?

Infectologista da Santa Casa de Curitiba responde as principais dúvidas e orienta população de como se cuidar e prevenir da doença

Entre o final de maio e início de junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou mais um alerta: a varíola dos macacos. Quem acompanha as mídias e noticiários no mundo, sabe que essa tem sido uma pauta relatada muito frequentemente pelos jornais. Recentemente, a doença já chegou em nosso país com oito casos confirmados até agora. O primeiro caso registrado no Brasil foi em 08 de junho, em São Paulo, em um paciente que veio da Espanha.

Neste momento, os olhos dos órgãos internacionais de saúde se voltaram para a doença, mesmo ela já existindo há um tempo. O motivo é que pelos casos registrados da varíola dos macacos fora dos países da África, onde a doença não é encontrada. Já foram registrados casos na Europa, América do Norte, América do Sul e Austrália.

É muito cedo para afirmar que teremos uma nova pandemia. Porém, o novo surto em um período próximo da Covid-19 gera curiosidades pela população. Pensando em solucionar as principais dúvidas, convidamos a infectologista do Hospital Santa Casa de Curitiba, Dra. Viviane de Macedo, para nos contar o que a ciência sabe até agora sobre os novos casos da varíola dos macacos. 

Vamos lá!

O que é a varíola dos macacos?

A varíola dos macacos é uma doença causada pelo vírus Monkeypox, transmitido pelos animais aos humanos. Este vírus possui roedores como seu reservatório e os macacos são considerados hospedeiros intermediários ou de transportes. Logo, os macacos carregam o vírus sem desenvolver a doença.

“Este vírus faz parte do mesmo gênero do vírus da varíola que estamos acostumados a ver”, explica a Dra. Viviane. “A principal diferença é que a varíola dos macacos gera aumento dos gânglios linfáticos”, conta.

Como ocorre a transmissão?

A transmissão do macaco ao ser humano ocorre principalmente por meio de contato direto ou indireto com sangue, fluidos corporais, lesões de pele ou mucosa dos animais infectados. A transmissão secundária, ou seja, de pessoa a pessoa, ocorre por contato próximo com secreções respiratórias infectadas, lesões de pele ou com objetos e superfícies contaminados.

“A transmissão por gotículas respiratórias, geralmente requer contato pessoal prolongado com o infectado”, orienta a infectologista. “Desta forma há um grande risco em profissionais da saúde, membros da família e contatos próximos”, explica.

A Dra. Viviane ainda adiciona que é possível existir a transmissão vertical. Ou seja, o contato próximo no pós-parto.

O período de transmissão se encerra quando as crostas das lesões causadas desaparecem.

Quais os sintomas e diagnóstico?

Os sintomas da varíola dos macacos começam com febre, dor de cabeça, dores musculares e na lombar, arrepios e exaustão. Entre 1 a 3 dias após a febre, o paciente desenvolve uma erupção cutânea, geralmente começando na face e se espalhando em outras partes do corpo.

A doença dura de 2 a 4 semanas. O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de 7 a 14 dias, mas pode variar de 5 a 21.

O diagnóstico é feito através da exclusão de outras doenças com quadro semelhante, como varicela (catapora), sarampo, infecções bacterianas, sífilis e alergias associadas a medicamentos.

Outro teste de eleição recomendado é a cadeia da polimerase (PCR) devido à precisão e sensibilidade. As amostras diagnósticas ideais na fase mais aguda para a varíola dos macacos são swabs de fluídos (das lesões de pele como de vesículas, pústulas). Na fase mais tardia, quando as lesões de pele já estão cicatrizando, podem ser encaminhadas as crostas, de preferencia as menos secas. A biópsia de pele também pode ser uma opção.

No entanto, as sorologias são desencorajadas devido possibilidade de falso positivo devido reação cruzada em relação a outros vírus do gênero Orthopoxvirus e com as vacinas da varíola.

Por que ocorre novos surtos?

Os surtos atuais ainda estão sob investigação. Por isso, os especialistas ainda precisam aguardar mais detalhes para entender os fatores reais das causas.

A contaminação do primeiro caso humano da varíola dos macacos aconteceu na década de 1970 na República Democrática do Congo. Depois, surtos endêmicos (ou seja, quando acometem uma região geográfica específica) foram registrados em países da África Central e Oriental.

É comum que casos sejam registrados de pessoas com histórico de viagem à essa região. Em 2003, os Estados Unidos tiveram um surto de varíola dos macacos. Roedores importados dessa região para a América do Norte contaminaram cães de estimação que, então, infectaram pessoas no Meio Oeste americano.

“O que chama atenção neste momento são os surtos registrados simultaneamente em vários países sem que se estabeleça uma potencial ligação com pessoas que estiveram na África”, detalha a Dra. Viviane.

Quais as maneiras de se proteger?

A Dra. Viviane elenca algumas dicas de como a população pode se proteger da doença. Muitas delas são bem parecidas com o que vivemos durante a pandemia da Covid-19.

É necessário evitar o contato com animais infectados ou animais que possam abrigar o vírus. Não entrar em contato com objetos e materiais, como roupas de cama, que tenha estado em contato com animais doentes. Além de isolar os pacientes que estão infectados.

“Higienzar as mãos após contato com infectados ou mesmo usar máscara para pessoas que convivem com alguém infectado pode ser uma forma de prevenção, igualmente”, orienta a doutora.

Para os profissionais da saúde, o uso de Equipamento de Proteção Individual (EPIs) é essencial no cuidado com paciente com suspeita ou confirmação de varíola dos macacos.

“É muito importante também cuidarmos das pessoas que estão no que chamamos de grupo de risco, pois a doença pode ser mais forte nelas”, explica a doutora. Entre essas pessoas estão: imunocomprometimentos, como aqueles portadores do HIV, linfoma, transplantados, doença autoimune, entre outros. Crianças com menos de oito anos de idade. Mulheres grávidas ou amamentando. Bem como pessoas que possuem histórico ou presença de dermatite atópica. Ou pessoas com condições esfoliativas ativas na pele (queimaduras, acne grave, infecção pelo vírus herpes, entre outras).

A vacina da varíola comum protege contra a varíola dos macacos?

De acordo com a Dra. Viviane, a vacinação contra a varíola demonstrou ajudar na prevenção ou atenuar a doença e proteger da varíola dos macacos. A eficácia foi de 85%.

“Pessoas que receberam vacinas contra a varíola há mais de 40 anos podem ainda ter certo alguma imunidade contra a doença”, explica a doutora. Atualmente, as vacinas originais (de primeira geração) contra a varíola não estão mais disponíveis para o público em geral. Uma vacina ainda mais recente baseada em um vírus vaccinia atenuado modificado (cepa Ankara) foi aprovada pela Food and Drug Association (a Anvisa dos Estados Unidos) para a prevenção da varíola dos macacos em 2019.

Esta é uma vacina de duas doses para a qual a disponibilidade permanece limitada, chamada JYNNEOSTM (também conhecido como Imvamune ou Imvanex).

ACAM2000® é outra vacina de vírus vivo atenuado aprovado nos EUA para varíola, que contém um vírus vaccinia atenuada, licenciada para imunização em pessoas com pelo menos 18 anos de idade que possuem alto risco de infecção por varíola. Pode ser usado em pessoas expostas à varíola dos macacos sob supervisão e liberação de órgãos competentes.

Qual o tratamento mais adequado para a varíola dos macacos?

A Dra. Viviane explica que não existem tratamentos específicos para a infecção pela varíola dos macacos. “A indicação é o uso de sintomáticos para alívio dos sintomas”, diz. “Normalmente a maior parte das pessoas terão sintomas leves, que geralmente desaparecem naturalmente”, conta a especialista. Outro enfoque no tratamento é no manejo das infecções nas lesões de pele, pneumonia, sequelas e entre outras.

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Sobre o autor

Comunicação Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba

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