Você sabe o que é o mal de Alzheimer? Talvez o conheça como uma doença do cérebro que faz perder a memória. De fato, esse é o principal sintoma dessa doença, mas não o único. É uma condição que atinge principalmente pessoas com mais de 60 anos, mas pode também ocorrer nos mais jovens, sobretudo se houver algum caso na família.
O Dr. José Mário Tupiná é o responsável pela equipe de Geriatria da Santa Casa de Curitiba, sendo também o presidente da seção paranaense da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz). Em entrevista publicada na página do Hospital no Facebook, ele explica que nem todo esquecimento é sinal de Alzheimer.
Segundo ele, o esquecimento que pode indicar a doença é aquele que deixa a pessoa menos funcional. “Esquecer onde põe a chave não é Alzheimer, mas esquecer para que serve a chave provavelmente é”, diz.
O médico conta ainda que há maior chance de ser Alzheimer quando a pessoa tem mais facilidade de lembrar fatos mais antigos do que os mais recentes. Como exemplo, fala de alguém que se lembra da roupa que usava na primeira comunhão, mas esquece o que comeu no almoço.
A falta de autocrítica é outra diferença descrita pelo doutor. Ele explica que um paciente que não acredita estar esquecendo as coisas tem mais chance de estar doente que um que está preocupado e faz exame por vontade própria.
Sobre outros sintomas, a mudança de humor é um ponto a se observar. Segundo o Dr. Tupiná, uma pessoa de alto grau escolar tende a perceber que está esquecendo as coisas e assim se estressar. Isso acontece na primeira das várias fases da doença. Vamos ver mais sobre cada uma delas.
As fases e os sintomas
A fase inicial ou leve dura de 2 a 3 anos. Nela, pode haver alterações na memória, linguagem, aprendizado, concentração e crítica, além de desorientação.
Na fase intermediária ou moderada, que dura de 3 a 5 anos, os danos à memória são maiores. Há mudanças no cálculo, julgamento e planejamento. Emoções, personalidade e comportamento social vão também mudando pouco a pouco. Conforme esse estágio vai avançando, aparecem sintomas físicos: alterações na postura, no andar e na ação dos músculos.
Já a fase avançada ou grave não tem uma duração definida. Pode se estender por muitos anos. Nesse estágio, os prejuízos às funções do corpo já são maiores. A pessoa não consegue mais falar direito, além de ter tremores e convulsões. Há ainda problemas urinários e fecais.
Por fim, na fase terminal, o doente não pode nem sair da cama. É comum também que não consiga se alimentar direito.
O diagnóstico
O exame para ver se a pessoa tem Alzheimer é clínico. É feita uma consulta ao médico, que irá conversar com o paciente e seus familiares, buscando entender o que há de errado. O Dr. Tupiná conta que exames de imagem e laboratório são apenas complementares, servindo para afastar a chance de se descobrir outras doenças.
Ele diz também que uma pessoa que conta com um bom clínico geral não precisa consultar o geriatra antes dos 60 anos. Mas, se não for o caso, o melhor é procurá-lo depois dos 30, pois nessa fase começamos a perder o potencial que construímos ao longo da vida. É uma fase de transformações, onde precisamos dar mais importância à boa saúde.
Como tratar
Existem formas de tratamento com e sem uso de remédios. “Hoje, cada vez mais, nos utilizamos de instrumentos não medicamentosos, como terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, musicoterapia e nutrição”, explica o Dr. Tupiná. Ele acrescenta que quanto mais cedo o tratamento tiver início, melhor será.
Ainda segundo o médico, há alguns remédios que podem facilitar a convivência e melhorar o comportamento, mas não revertem a doença. Trata-se de um mal hoje incurável e irreversível.
Dicas para evitar a doença
Uma das bases de uma vida saudável para diminuir o risco de Alzheimer é a boa dieta. O Dr. Tupiná indica a “dieta do Mediterrâneo”, uma opção com menor nível de gorduras saturadas: nenhuma fritura, pouca carne vermelha, mais vegetais e mais frutas. Ele destaca também que um prato mais colorido tende a ser mais saudável.
Também é importante cuidar da saúde física e mental. O doutor explica que exercitar os músculos é bom, pois libera uma substância que ajuda no raciocínio. Além disso, uma pessoa de alto grau escolar tem menos chance de ter a doença, enquanto para um analfabeto o risco é maior.
O médico acrescenta ser importante ter uma boa vida social: conviver, interagir e mudar de ambiente ajudam muito. Outra dica valiosa, segundo ele, é oferecer desafios a si mesmo, como aprender uma nova língua ou um instrumento musical.
Sobre se manter atualizado, a leitura tem papel fundamental. “Quando se fala que a leitura é interessante para a cognição, a gente sempre diz: é importante que seja uma leitura de atualidade, dinâmica. Não que ler um romance seja ruim, mas não impacta tanto na cognição. Agora, se você lê manchetes, se tem a oportunidade de discutir o que lê, emitir a sua opinião, refletir sobre uma realidade atual, isso faz com que a cognição seja privilegiada”, diz o Dr. Tupiná.
Algumas curiosidades
- A doença foi descoberta em 1906 pelo médico alemão Alois Alzheimer. Daí vem o nome.
- Representa de 50 a 70% dos casos de demência, sendo o tipo mais comum dela.
- O que a OMS estima é que existam 35,6 milhões de pessoas com a doença no mundo todo. No Brasil, é possível que esse número seja de 1,2 milhão.
- Um caso famoso de morte por Alzheimer é o da atriz Rita Hayworth. Sua filha, Yasmin Aga Khan, liderou a conferência que criou o Dia Mundial do Alzheimer, em 1994.
Fontes de referência: Alta Diagnósticos, Danone Nutricia, Ghente, UFSCar