Perda de memória pós-covid: médico da santa casa de curitiba responde principais dúvidas

Mesmo após a recuperação, alguns pacientes em consultório relatam dificuldades de concentração e algumas outras sequelas que são de característica neurológicas; assunto tem instigado pesquisas sobre o tema

Lapsos, pequenas desatenções nas rotinas diárias, ou mesmo esquecer algo recente. Estes estão entre alguns dos sintomas perceptíveis no que chamamos perda de memória pós-Covid. Nos últimos anos, o mundo viu o novo coronavírus chegar e em pouco tempo ter a vacina para proteger a população dessa síndrome respiratória. No entanto, alguns estudiosos ainda buscam respostas para perguntas referentes às sequelas que o vírus pode deixar em nosso corpo.

Entre eles está o neurologista da Santa Casa de Curitiba, Dr. Leonardo B. Pagnan (CRM 38024 / RQE 28538), que estuda o assunto e atende pacientes com queixas perda de memória após se recuperar da Covid-19. A partir da sua experiência em consultório e de estudos científicos lançados recentemente, convidamos o profissional a responder às dúvidas mais frequentes que possam ajudar a compreender esses casos. 

Leia a entrevista.

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Pergunta: No geral, quais são os principais sintomas que os pacientes podem desenvolver no cérebro após a Covid-19?

Resposta: Existem vários sintomas neurológicos que podem ocorrer após a Covid-19. Entre os mais comuns que presenciamos estão a dor de cabeça, fadiga crônica, depressão, ansiedade e até mesmo insônia. 

Trabalhos científicos mais recentes mostram que cerca de 20% dos pacientes podem apresentar dificuldade de concentração e atenção, bem como a perda de memória após a Covid-19. Por isso, é importante ficarmos atentos a casos como esse e investigar mais cientificamente.

P: É possível identificar em quais grupos de paciente é mais comum esse problema da perda de memória?

R: A literatura médica ainda não sabe dizer exatamente quem são os pacientes com maior risco de desenvolver esse problema. É por isso que estamos investigando ainda mais esse assunto. O que sabemos até agora é que independente da gravidade da doença, os pacientes que tiveram tratamentos utilizados na fase aguda ou durante o internamento em UTI, existe um risco de declínio cognitivo após a Covid-19.

P: Além da perda de memória, eles causam também problemas de concentração? Por quê?

R: Veja, os transtornos Pós-Covid podem envolver diversas partes do que chamamos domínios cognitivos, áreas específicas do nosso funcionamento: a memória, atenção, concentração e capacidade de resolver problemas. Esses são alguns exemplos.

Uma pesquisa de revisão publicada em 2021 mostrou que quando analisamos esses domínios específicos, podemos observar que a atenção e funções executivas são as mais acometidas após a Covid. Curiosamente muito mais do que a perda de memória. Devemos ter em mente que múltiplos domínios da cognição podem ser afetados após a COVID.

P: Mas se o coronavírus ataca principalmente nosso sistema respiratório, como que ele “chega” até o cérebro?

R: É uma pergunta interessante a se fazer, porque é um mecanismo ainda não completamente entendido, mas existem hipóteses aceitas na academia bem interessantes. Vamos lá.

A primeira delas diz respeito à facilidade com que o vírus tem de entrar nos neurônios e outras células do sistema nervoso central, o que chamamos “tropismo neural”. O vírus pode penetrar diretamente pela barreira hematoencefálica, aquela estrutura que separa o sangue e o sistema nervoso central. Ou então, o coronavírus consegue entrar no sistema nervoso através do bulbo olfatório, uma parte do cérebro responsável pelo olfato.

A outra é que ele afeta os vasos sanguíneos do cérebro e causa problemas de coagulação, resultando em Acidente Vascular Encefálico ou trombose de veias cerebrais. Ainda é possível que exista uma inflamação no organismo e disfunção de outros órgãos que podem afetar o cérebro de maneira secundária. Bem como, diminuição da oxigenação no sistema nervoso central devido à insuficiência respiratória.

P: E como tratamos a perda de memória pós-Covid? 

R: O principal tratamento é a reabilitação neuropsicológica. Cada caso tem suas particularidades sobre qual será a melhor abordagem escolhida, visto que diversos domínios da cognição podem ser afetados. O ideal é que procure um médico e um médico neurologista para poder avaliar e fazer o tratamento adequado para cada um.

P: Como fazemos a diferenciação se é sintoma pós-Covid ou se é Alzheimer?

R: Esta é uma pergunta interessante. Em geral, a Doença de Alzheimer se manifesta de uma forma progressiva, ao longo de anos, e tende a acometer a memória de curto prazo inicialmente, com o comprometimento de outros domínios ao longo do tempo. 

A infecção pelo Covid, como qualquer evento agudo infeccioso, pode servir como uma espécie de gatilho para que as síndromes demenciais como a doença de Alzheimer se tornem evidentes. Uma boa história clínica e uma boa avaliação neurológica da cognição com especialista conseguem diferenciar as duas condições. 

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O Dr. Leonardo ainda reforça que um acompanhamento próximo com neurologista e neuropsicólogo, com avaliações frequentes para os domínios da cognição são de extrema importância para um tratamento eficaz. Vale lembrar que esses casos não duram muito tempo e existem muitas pesquisas a serem feitas ainda.

É muito importante acompanhar a evolução da medicina e que cada vez mais seja incentivado o ensino e pesquisa para entender melhor como o vírus atua em nosso corpo. 

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Sobre o autor

Comunicação Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba

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