Marcely Gimenes Bonatto (CRM 23125 | RQE 16903), cardiologista do Hospital Santa Casa de Curitiba, teve sua pesquisa, fruto de sua tese de doutorado, publicada na Circulation, uma das revistas mais importantes em saúde cardiovascular. O estudo, apresentado no Congresso Americano de Cardiologia, em Chicago, mostrou que a medicação testada reduz em 77% o risco de dano cardíaco causado por quimioterapias.
Alguns medicamentos usados no tratamento do câncer, especialmente as antraciclinas, são eficazes, mas podem trazer um efeito indesejado: prejudicar a saúde do coração.
Diante disso, a pesquisa buscou entender se um remédio já utilizado no tratamento da insuficiência cardíaca, a sacubitril-valsartana, poderia proteger o coração de pacientes em quimioterapia.
“Esse é o primeiro trabalho feito com sacubitril-valsartana e é um dos únicos que mostra o teste dessa droga em relação à prevenção de doença cardiovascular, e não como uma forma de tratamento”, afirma Marcely.
Como o estudo foi realizado?
O estudo envolveu 114 pacientes que apresentaram troponina elevada, um sinal de possível sofrimento cardíaco durante a quimioterapia. Eles foram divididos em dois grupos: um recebeu sacubitril-valsartana e o outro recebeu um placebo. Nem médicos nem pacientes sabiam quem estava tomando o quê, o que garante resultados mais confiáveis. O acompanhamento medicamentoso durou seis meses.
O principal exame analisado foi o strain, que mede a capacidade do músculo cardíaco de se contrair. Quanto pior o strain, pior a função do coração. O objetivo era descobrir quantas pessoas tiveram uma queda importante nesse exame.
O estudo contou com pacientes com câncer de mama, leucemia ou linfoma e apresentou resultados bastante expressivos. Entre aqueles que utilizaram sacubitril-valsartana, houve uma redução de 77% do risco de disfunção do coração.
O que isso significa?
O estudo sugere que a sacubitril-valsartana pode oferecer proteção cardíaca a pacientes que começam a apresentar sinais iniciais de dano ao coração durante a quimioterapia com antraciclina.
“A gente acredita que esse estudo vai poder ajudar muitas pessoas, para que possam realizar o tratamento do câncer sem precisar interromper por causa do coração ou correr o risco de desenvolver uma disfunção cardíaca quando o tratamento terminar”, conclui Marcely.